Muitas vezes o caminho é escuro. Meus pés conseguem sentir apenas o toque frio da terra e meus olhos tentam não perder a tênue, quase invisível luz que paira no horizonte. Um sopro gelado, vindo do Oeste, liberta o vapor aprisionado em minhas narinas e o carrega para longe. Para um local ao qual eu não posso mais regressar. Não olho para trás. Não o fiz desde que parti, um lugar onde as flores não brotavam dos meus passos, onde o pedaço de metal que carrego sobre a minha cabeça não era considerado um simbolo da minha divindade. Do meu status de criador.
Eu sei, porem, que não estou só. Eles caminham ao meu lado. A minha direita ele segue sorrindo para o Vazio. Seus olhos brilham com a Luz das possibilidades. As vezes ele toca a minha mão por um breve instante e eu sei que naquele momento novos mundos são criados em algum lugar. Quando ele olha para o alto, o universo se acende numa vibrante dança de fogo e caos. Quando ele olha para baixo, a existência torna-se pálida e sem sabor, como o pão sem sal ou os campos cobertos pela sombra do inverno.
Ele cria novas línguas para cada cancão e as canta com diferentes acordes. Ele se lembra de todas as coisas desde o inicio ate o final do Tempo e ele as ama. Cada uma delas. Ele me conta a respeito delas. Maravilhosas historias. Ele chora quando as vê morrer e se alegra quando as vê renascer. Outras vezes ele para e observa o Terceiro como se esperasse dele um sorriso ou o estender de mão.
O Terceiros não fala, nem mesmo abre os olhos. Ele não precisa ver o caminho. Caminha sem mover os braços e em um passo vagaroso obrigando o próprio Espaço a se dobrar para torná-lo veloz. A luz não toca sua pele. Se perde antes disso, enlouquece.
Em poucas ocasiões ele toca minha mão e eu perco o meu caminho. Meus olhos se enchem de sangue, minha língua perde o sabor e meu coração bate ao contrario. Minha pele torna-se como a sua, pálida mas estranhamente quente, como a pele do carvão aceso. Eu entendo a dor e então como é ser como ele.
Tudo aquilo que chama sua atenção, envelhece e tudo o que ele ama, eventualmente morre. Ele ama todas as coisas, cada uma delas.
As vezes eu penso que ele quer me falar algo. Que deseja abrir os olhos e contemplar meu rosto pela primeira vez mas ele nunca o faz. Apenas segue em silencio e espera ate que cada coisa se perca no caminho que deixamos para trás e finalmente morra afogado no mar do infinito.
Após tanto tempo eu percebo que a luz no horizonte é mais forte agora e eu posso, finalmente ver a linha que marca o fim da divindade e o inicio da era das leis. Eles, meus companheiros, se afastam de mim lentamente. Seguem em direções diferentes ate que nada mais reste alem de uma recordação longínqua. Eu sei que ainda os verei. O laco que nos une foi criado antes do tempo ou espaço e não pode ser superado por nada que homem ou deus faça. Mesmo assim me sinto só e frágil entrando num mundo que não se dobra perante minha vontade. Quem não sabe que eu sou. Pelo menos por enquanto...
002 THE WAY
Many times, the way is dark. My feet cannot feel the cold touch of the ground and my eyes try not to loose the lesser, almost invisible light floating above the the horizon. A freezing blow, coming from the West, set my warm breath free and take it far away, to a place which where I cannot go back. I don’t look back. Didn’t do since I left. That place where flowers didn’t blossom from my footsteps, where the piece of metal over my head wasn’t the symbol of my divinity, of my status as the creator.
However, I know that I’m not alone. They are by my side. He’s walking on my right, smiling to the void. His eyes are shinning with the light of possibilities. Sometimes he touches my hand and for a instant new worlds born somewhere. When he looks up the universe shines in dance of fire and chaos. When he looks down the existence looses the color and flavour like saltless bread or the fields cover by the winters shadow.
He creates new languages for each song and he sings them in different tones. He remembers all things since the beginning to the end of Time and he love them all. He tells me about them. Wonderful stories. He cries when they die and enjoy their rebirth. Sometimes he stops and look to the Third one like if he expects a smile or a friendly touch.
The Third one doesn’t talk, not even open his eyes, He doesn’t need to see the way. Walks with moveless arms and vigorous pace forcing the Space itself to bend to make him faster. Light doesn’t touch his skin. Gets lost before it, in madness.
In some rare occasions he touches my hand and I lost the way. My eyes are drowned with blood, my tongue looses the taste of things and my heart beats backwards. My skin turns just like his, pale but strangely warm, like live ignited coal. I understand the pain then I see how is to be like him.
All that catchs his attention decay and all he loves will eventually die. He love all things, each one of them.
Sometimes I feel like he wants to tell me something. That he wants to open his eyes and see my face for the first time but he never do. Only keeps walking in silence and waits until all things get lost, drown in the sea of eternity and finally die somewhere in the way behind us.
After so long I notice the light on the horizon is now stronger. I can finally see the line that marks the end of divinity and the beginning of the age of laws. My companions walk away from me, slowly. They keep going in different directions until they become nothing but a distant memory. I know we will meet again. The bond between us was made before Time and Space and cannot be destroyed by men or gods. Even so I feel alone and fragile going to a world that doesn’t bends over my will. That doesn’t know who I am. At least for now...